sábado, 3 de março de 2018

Justificativas



A vizinha, mãe de dois meninos, abandonados pelo pai, que se mudou semana passada para a casa ao lado, gritando com os filhos: "Não mexe em lixo do quintal não, suas pestes! Já não basta que todo mundo nos ache um lixo, que todo mundo nos trata como lixo, e vocês ainda ficam brincando com lixo!"

Um senhor alto, muito velho, em pé sozinho no fundo do elevador, olhos aguados, alguns instantes depois em que responde meu cumprimento quando me adentro: "Meu maxilar se partiu e fechou o canal dos meus ouvidos. Se o senhor falou alguma coisa para mim e eu não respondi, peço que me perdoe, não estou ouvindo."

O catador de ferro-velho, de idade indefinida, cabelos e bigode tingidos de preto, que me grita um cumprimento onde nos vemos como se já tivéssemos trocado alguma palavra antes, e que eu surpreendentemente vejo andando em volta da represa empurrando em uma cadeira de rodas um menino loiro de um ano e meio. O "boa tarde" radiante que ele lança para mim, para minha esposa e meus filhos.

E o sorriso do menino loiro.

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