terça-feira, 25 de agosto de 2015

Chorando de rir aqui




Minha fãnzice pelo Laerte vem desde quando eu tinha 16 anos. Essa resposta dele é a coisa mais genial da imprensa nos últimos anos, de uma finesa, leveza e incisividade, e que dá em poucas linhas a devida mínima importância a quem pretensamente o atacou. Me matando de rir:

Sobre o Reinaldo Azevedo.
Acho que eu não devia dizer o que vou dizer, mas minha advogada opinou que não vai gerar ação na justiça. E minha analista deu força, pra botar pra fora senão somatiza e piora a situação das varizes.
Então lá vai – esse cara me dá um tesão desgraçado.
Não sei o que é – tá, ele não é um ogro -; se é o olhar decidido, o nariz, os lábios, não sei!
Nessas noites de frio que vem fazendo eu fico debaixo das cobertas e, como diria o Henfil, peco demais.
Vou acabar tendo que depilar a mão com cera espanhola.
Acho que eu tenho síndrome de Estocolmo platônica.

P.S.: lendo os comentários no post de réplica do cara a essas 9 linhas definitivas, a coisa fica ainda mais devastadoramente engraçada. Há gente lá que se pergunta do por quê o Laerte ter consultado uma advogada antes de redigir. O próprio retratado nessas linhas ressalta a consulta como um atestado de poder. Tasca-lhes, Laerte, o analfabetismo de interpretação textual nas caras, e aqui eu repito a pergunta do Sheldon, de The Big Bang Theory: Sarcasmo? Isso foi sarcasmo?

17 comentários:

  1. Não atoa a cabeça do Reinaldo Azevedo faz sucesso nas surubas.

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    1. Cara, se tem um setor em que a expressão cultural brasileira é grandiosa e tem estatura mundial, é a dos cartunistas do grupo a que o Laerte pertenceu nos idos dos anos 80: Glauco e Angeli e alguns outros que não me lembro agora. Eu comprava Chiclete com Banana, Piratas do Tietê, etc.

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    2. Como cartunista, concordo. Mas não vi nada de genial na resposta, resposta que não houve, na verdade. O problemas desses artistas é quando se envolvem a fazer política e não arte.

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    3. Aí você entra em uma contradição conceitual: a arte do cartunista é impossível sem a política.

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    4. Não houve resposta justamente por não haver substância alguma no ataque feito pelo RA. O RA fez seu exerciciozinho chauvinista descerebrado e hidrofóbico de sempre, e o Laerte só deu uma gozada altaneira na cara do blogueiro. O blogueiro ficou desnorteado por completo. Basta ver que no post de réplica dele ele confeccionou mais de 240 comentários (da última vez em que vi, pela manhã), contra a quantidade de comentários menores nos outros posts. Porque tenho certeza de que o RA ou assessoria é quem escreve a maioria daqueles comentários. O cara é tão triste que faz sua própria claque.

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    5. Charlles, eles tem censura nos comentários pelo que eu me lembro, ou não ?

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    6. Se você passar uma vírgula fora da louvação, seu comentário não é aprovado.

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  3. Ainda por cima ela é super acessível. Naquela vez que publiquei um conto, mandei pra ela o link e em poucos dias ela leu e comentou comigo, um completo desconhecido.

    Ah, seu programa de entrevistas no Canal Brasil é imperdível.

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    1. É o cara!

      Não consigo chamá-lo de "ela". Como disse, o leio desde os anos 80, em que me acostumei de chamá-lo pelo gênero masculino.

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    2. Eu também não conseguia, até começar a ver o programa "transando com Laerte". Eu comecei a ler tarde, e antes preferia o Angeli "anagrama de genial".

      Olha esse perfil:
      http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao-79/questoes-de-genero/laerte-em-transito

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  4. Esqueceu de mencionar o Henfil, Charlles, a quem Laerte também cita na resposta, irmão do sociólogo Betinho e eternizado em O Bêbado e o Equilibrista.

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    1. Nessas revistas que eu lia naquela década não havia a participação do Henfil. Mas boa lembrança. E mais dois cartunistas dos grandes: Millôr e Fernando Veríssimo.

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  5. Reconheço esse nome Reinaldo Azevedo da revista Veja e de polêmicas na internet, duas coisas das quais costumo passar longe. Mas também gosto muito do Laerte e resolvi ir ao Google para ver o que era essa treta. Fiquei atônito. É esse Reinaldo Azevedo o ídolo de tantos brasileiros? Estamos muito piores do que eu imaginava. No meio das grosserias e da presunção constrangedora, uma coisa me chamou a atenção: "Eu desmoralizei a sua leitura do mundo com a lógica e com os fatos", diz o Reinaldo Azevedo. Vejam bem: ele desmoralizou com lógica e fatos... um cartoon. Um quadrinho minúsculo, simples e provocativo como são os melhores cartoons, de quase nenhuma palavra, retrato perfeito de tantos dos nossos absurdos, a violência, a hipocrisia, a ignorância de enorme parte da população em relação ao que ocorre na periferia, em relação ao nosso passado, etc. Tem um exagero ali, uma generalização, mas é um cartoon, oras bolas! Essa é a linguagem da coisa. A denúncia é precisa, cruel, e necessária, para envergonhar não somente esse ou aquele tipo de brasileiro eleitor desse ou daquele partido, mas a todos nós. E Reinaldo se gaba de tê-lo "desmoralizado" com "lógica e fatos". O que é isso? Burrice, demência, cegueira? Provavelmente tudo isso junto. E esse cara é uma espécie de guru de um monte de gente. Queria conseguir rir disso como você, Charlles, mas fiquei foi só um pouco deprimido.

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    1. Por isso que eu considero que boa parte daqueles comentários no blog do RA são criados pelo próprio, Fabricio. Eu não consigo acreditar que o nível mental (e moral) esteja tão raso. Também fico muito para baixo quando leio aquilo lá. Estamos muito mal, MESMO. Na verdade, a Veja tenta constantemente lançar o nome do RA para uma amplidão nacional, mas nunca conseguiu, o que é um alívio. Fora do circuito da revista, que foi grande antes mas que hoje padece, o RA é um desconhecido. Ninguém o cita, ninguém fala dele. Vemos direto gente como Miriam Leitão, Demétrio Magnoli, e não sei quem mais, aparecendo aqui e ali na mídia, em eventos intelectuais ecléticos (não só na dicotomia besta de PT/PSDB, que é o único tema do RA), lançamento de livros infantis, romances (no caso da primeira), e coletânea de ensaios sociológicos. Mas o RA só falam dele quando ELE se lança na xingação de alguém. Por isso que RA vive na falsa polêmica, em sua pesca ofensiva por relevância. Laerte nunca falou dele, e essa resposta manteve a harmonia de tratá-lo com sumária indiferença (e de quebra, reafirmar a sua estupidez, uma vez que dá o tropeço na petulância do cara em achar que tá abafando, puft).

      Sempre digo que minha admiração nem sempre segue no mesmo caminho da minha concordância. Não concordo com essa charge específica do Laerte, mas tenho a mesma visão que você: a mensagem exagerada e provocativa é que é o lance válido, é que faz pensar. Laerte tem essa coisa perigosa que eu sinto sempre que vou ler uma obra dele, de ter certeza de que vou me surpreender, de que vai ser algo sempre brilhante. A história dele de há alguns anos, em que ele provocou uma celeuma desnecessária por usar banheiros das mulheres em um restaurante, é o tipo de coisa que me deixa de pé atrás; mas se fosse no meu, caso, eu diria para minha esposa e minha filha: "mas, queridas, é o Laerte! O Laerte!"

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  6. "O crítico cultural da vida é o alfa de nossos tempos. É o usuário mais apto das redes, o filho de uma evolução técnico-moral fabulosa, permitida por novas ferramentas e legitimada pelo colapso de velhas autoridades.
    O crítico cultural da vida é nada menos que o senhor do espetáculo, na forma que o espetáculo tomou entre nós. Se o espetáculo antes era sobretudo o espetáculo difundido em massa, hoje ele é o espetáculo filtrado para/por cada um, pelo histórico de suas próprias preferências. A arena do crítico cultural da vida, como não poderia ser diferente, tem forma circular.
    O crítico cultural da vida consome a vida. Aborda-a como a uma estante de signos necessariamente coerentes, a serem ordenados para apresentação, seja na forma de ostentação, exaltação e execração. (Eis o pão das redes sociais.)
    Como o crítico cultural propriamente dito, o crítico cultural da vida é um intérprete – ainda que do tipo total, para quem não existem sujeitos – só peões de teses –, e não podem haver fragmentos desconexos no agir do homem – só expressões de totalidades.
    Quando emite um sinal “ao mundo”, o crítico cultural da vida declara “eu pensei”, “eu vi”, “eu fiz”, “eu presenciei”, “eu ouvi”, “eu falei”, “eu li”, “eu joguei”, mas diz “eu consumi” (=”eu consumi aqui, do meu canto”). O que resulta é, por sua vez, também consumido, da fotografia de uma ida à praia ao manifesto de ocasião.
    O crítico cultural da vida sempre grita e sempre grita “ao mundo”, isto é, ao conjunto de arenas às quais, pelo histórico de suas próprias preferências, o crítico cultural da vida pode enviar sinais. Sua rede se desenha nas suas conexões.
    Essas arenas só permitem entre si uma tênue forma de vizinhança, sem comunidade, visita ou possibilidade de interpenetração. Pois as arenas da crítica cultural da vida só se comunicam como espetáculo. Se, por acaso, a imagem de uma arena raia em outra, essa imagem se torna e se apresenta como produto, e não como cabeça de ponte.
    A afinidade – qualquer afinidade neste contexto – pode ser definida como a potencialidade de consumo sintônico. Numa ponta, identidade; na outra, incompatibilidade: ao fim e ao termo, a mesma escala.
    De fato, o indicativo do ponto na escala, qual seja, o conteúdo da crítica do crítico cultural da vida, pouco importa. As opiniões do crítico cultural da vida são como as tintas de um catálogo quiçá ilimitado: as muitas cores desse catálogo colorem os mesmos feixes, a mesma “pedra”.
    Isso parece ir contra a evidência de polarização que podemos encontrar gravitando em torno de quase qualquer tópico público – só na aparência. No universo do crítico cultural da vida, não pode haver polarização, pois não há sombra de debate – pelo menos não forma em que se convencionou conhecer desde a Grécia antiga. O crítico cultural da vida apela só a seus quase-vizinhos, e tão somente na medida em que o permite o seu histórico de preferências.
    Mesmo quando direciona nominalmente uma mensagem “ao outro lado” , o crítico cultural da vida fala aos “seus” – os provisoriamente seus, note-se bem, todos radicalmente inseguros no fluxo de ostentação, exaltação e execração.
    Não há, repito, debate: há uma forma de terapia. Não há polarização: há o tropel das coalizões de consumo. Não há ágora: há a minha ágora de projeções e representações.
    O crítico cultural da vida está em construção. Quando cobra autenticidade, é para se negar impostado. Quando expõe uma totalidade, é para se negar fragmentado. Quando cobra diálogo, é por querer falar sozinho.
    Só o cansaço pode nos resgatar."

    David Butter, internê. 28/08/15

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