terça-feira, 7 de abril de 2015

As tais pessoas comuns de Kurt Cobain



A diferença está no tom. John Gray produz uma narrativa que tem tudo para integrar um romance epopeia sobre ingenuidades sinceras e erros bestiais centenários com consequências as mais terríveis ou singelas, e o faz narrando fatos que, em sua maioria, são por demais conhecidos, mas que a desencantada candura da voz empregada em A busca pela imortalidade faz com que o leitor reaja como se os estivesse ouvindo pela primeira vez. Um amigo meu me disse sobre esse livro, com o olhar tomado pelo assombro de orfandade que a leitura de Gray provoca: "Mas por que coisas assim nunca são nos ensinadas na escola?" Não pude deixar de sorrir com certa ternura por um professor de história com um nível cultural bem acima dos índices mais generosos expressar uma indignação que beira a primeira desilusão da juventude com as dores do mundo, mas eu entendi inteiramente o que esse meu amigo sentia. Gray nos informa, por exemplo, que o bolchevismo matou mais pessoas em seus primeiros quatro anos que a dinastia Romanov matou em 300 anos, e uma certa eletricidade fria ronrona em seu silêncio confortável no estômago do leitor. Gray nos revela que a União Soviética não foi somente um regime político, mas um projeto esotérico perpetrado para extirpar todos os homens pueris e incultos e pobres para o benefício recompensador de formar a longo prazo uma sociedade de homens superiores, uma eugenia para a qual a história herdou documentos do próprio punho de Lênin em que este vaticina os benefícios de se matar inocentes para fundamentar o temor reverente na mentalidade dos povos, e o leitor sente o espanto com toda a sua roupagem de ineditismo. Nessas mais de 200 páginas, o tom de voz de Gray se assemelha à clareza estoica das melhores páginas de Camus, um tom muito distante dos artifícios que os eventuais parceiros apontados do autor na escola de atuais divulgadores do ateísmo científico esclarecido usam para autenticarem suas posições de filósofos populares. A solidão de Gray paira com elegância e sem nenhuma estridência acima das propagandas em prol do ateísmo nos ônibus de Londres e das comunidades da internet que celebram a memória de Christopher Hitchens com garrafas de uísque. E a beleza da prosa de Gray após a descrição de tantas estultícies cometidas pelo homem em suas tentativas de vencer a mortalidade nos traz o inusitado consolo de que a morte é a conclusão mais justa para zerar uma matemática que tem provado a mais vazia e inútil presença terrena.

Para quem escreve esse filósofo solitário que é o único entre seus pares que tem a estampa memorial de Kant andando de mãos cruzadas às costas pelas ruas do tranquilo povoado? Esse espanto de meu amigo diante o que funciona como um soco de descoberta do livro de Gray transcende a simples análise sobre o valor educacional da verdade bem empostada. No mesmo dia em que falei com esse amigo, um outro conhecido meu me mostrou pelo celular uma cena de sexo coletivo que viralizou o ambiente virtual da cidade, que mostra uma menina com cinco rapazes no banheiro para deficientes físicos do colégio onde esse amigo dá aula. Eu não tenho a mínima energia para ver esse tipo de vídeo, e a questão aqui me parece ser realmente energia e não estômago ou paciência, pois qualquer simbolismo entre o mais evidente e o mais recôndito que tais cenas possam provocar só me causa um enorme cansaço. O máximo a que pudesse chegar de eu sentir um furor contestatório diante a bestialidade humana, a selvageria adolescente, a total inocuidade do sistema de educação nacional, era de saborear a velha hipocrisia da moral infestada de testosterona desse conhecido que me mostrou o vídeo, sublinhando ao mostrar a velha cartilha de indignação superficial de aonde vamos parar, Charlles? Talvez eu tenha chegado à idade enfim de um estoicismo imune à coligação perceptiva da literatura, um desencanto que não se adorna mais com galhardia da pose de senhor distinto sentado com um livro aberto nas mãos: uma noção de algo sério e irretocável que sempre esteve aqui mas que só agora eu o vejo sem nenhum filtro de amaneiramento, e que não depende de minha posição em relação a ele. Nada que eu pudesse fazer, nem nada que um conjunto de pessoas supostamente detidas das mesmas intenções de mudança que me toma diante a inocuidade humana pudesse fazer, teria algum efeito. A diferença está no tom. O tom de Gray expressa a única concordância possível de acontecer entre pessoas bem intencionadas em um mundo onde as fantasias de redenção nunca tiveram vez. A única utopia possível é a auto-consciência, uma humildade potente e libertária diante a verdade do ser combalido que somos. Esses dias assisti a um documentário produzido com as fitas de áudio contendo as tantas horas de gravação dos testemunhos e opiniões de Kurt Cobain, chamado Retrato de uma ausência. O filme tem a intenção de causar certo peso dissipativo, certa nostalgia triste de uma ruína que se transformou, mostrando cenas de escombros, hotéis vagabundos de beira de estrada, muros da cidade com fragmentos de cartazes que convida a algum evento popular acontecido há muito tempo, exaustores de ar de indústrias que esperam pela demolição, céus de entardeceres que nada prometem, como se fosse a visão de um adolescente que não vê nenhum espaço possível que o integre à sociedade, um mendigo cujo conhecimento genético da exclusão que relegou seus progenitores em longa linha pregressa depõe contra a reação poética possível, restando apenas o ódio mais concentrado. O adolescente Cobain que sentia o mundo devastado dessas imagens sabe que não lhe resta o lenitivo de ser o herdeiro dos românticos escritores da tuberculose, ou o alcoólatra beatnik de uma era em que o apogeu do desespero podia adotar a figura de uma América primordial subliminar ainda passível de ser alcançada, ou o homossexual culto reacionário cujo limite visível da linha da vida cortado pela AIDS justificava a nobreza de seu despojamento. Cobain tinha o enorme azar de ter nascido famélico em uma época pós-suicídio distintivo, de estar em um interstício cujo esgotamento provocado pelos excessos passados mutilava o período histórico com uma absoluta falta de imaginação. Só restava a Cobain visualizar a morte precoce que era a única realidade que tinha pela frente sem uma roupa apropriada para se encontrar com ela, sem mensagens as mais pueris de adeus cínico para os que deixava para trás, sem direito a um epitáfio histriônico que fosse seu testemunho relativamente ruidoso contra a barbárie do mundo. Em uma das gravações, Cobain fala do emprego que teve em um hotel na beira da praia, um emprego que foi o inferno para ele porque as pessoas comuns que eram seus colegas de trabalho sempre lhe foram intoleráveis, pessoas as quais ele não conseguia se manter indiferente e contra as quais ele tinha que dizer as mais terríveis verdades. Muito provavelmente deveria ser um tanto irritante ficar próximo de Cobain, principalmente para os que expressassem as mais mínimas diferenças de educação e idade. O que seria pessoa comum para Cobain? Dificilmente seria a mais proximal à estirpe do Homem comum da biografia que Anthony Burguess escreveu sobre James Joyce, claro; seriam as tais pessoas desinteressantes que Eric Hobsbawn falou em seu discurso para uma classe de história em uma respeitada universidade, pessoas das quais ele afirmou que seus ouvintes não desejariam conversar com elas e nem que fossem suas alunas, a não ser que as amassem. Ao contrário de Hobsbawn, que cita a importância de que tais pessoas sejam protegidas da patrola da história, Cobain fala abertamente de seu repúdio a elas, de seu ódio, de seu nojo_ ao menos nas fitas de áudio que fazem o fundo às imagens do filme. Quando vi essa parte do filme, pensei, desalocando para a superfície meu eu de homem comum, latino-americano de um país à beira da falência: quem era Kurt Cobain? Um artista do rock que, como disse Pete Townshend, estava se tornando cada vez mais um adolescente descerebrado, oco e fútil. Sua arte, a melhor e mais relevante parte dela, se ampara na catarse pura, uma música virtuosística que perde o propósito assim que os hormônios provocados por ela se dissipam. Ele talvez fosse o mais crasso homem comum que teve o revés da sorte de se encaixar na raquítica exigência fonográfica de uma década de total pobreza musical, o que seu suicídio sem o mínimo sentido heroico de seus antepassados do gênero que morreram com os mesmos 27 anos confirmava. Kurt Cobain, pensei, se limitava a uma parca comédia sem graça de uma época que não tinha capacidade de oferecer nada, e por isso sua história fulgurante teve a auto-implosão e auto-digestão de um buraco negro. Não sei situar Cobain nos extremos da situação do vídeo pornô que meu conhecido me mostrou: se ele estaria no lugar hipócrita do meu conhecido, cuja permanência de um vídeo assim em seu celular não condiz com nenhum posicionamento moral válido; se ele seria um dos integrantes do vídeo; ou se ele, vivo com 48 anos, estaria tão esvaziado de energia para assistir tal vídeo.

Kurt Cobain tem relação com o livro de John Gray porque um dos resumos possíveis deste livro é a eterna tentativa eugenista de classes em diversas esferas da dominância em ganhar distinção com base no extermínio das classes que estão embaixo. O livro de Gray mostra o quanto a teoria da evolução de Darwin destruiu a imagem condescendente festiva que o homem tinha de si mesmo e de seu lugar de destaque no universo. E o livro é devastador em mostrar de maneira progressiva como o homem em desespero diante a verdade inexorável de sua insignificância procurou uma série de caminhos alternativos. A primeira parte narra sobre os movimentos do psiquismo acontecidos na Inglaterra, de como foram as tentativas de firmar o propósito da existência em um projeto reencarnacionista que parecia fadado ao sucesso pois além de obter provas em malabarismos entusiásticos da parapsicologia, atendia também a uma versão do evolucionismo para o progresso do espírito. Não era uma religião, mas uma nova outorga de uma Providência divina com propósitos meritocráticos para um ramo da alta sociedade que necessitava de uma legitimidade esotérica de seus privilégios de bom nascimento. E tinha o aval de se arvorar como sendo uma ciência ainda não reconhecida. Quando tudo isso fracassou, ou porque as atitudes circenses das sessões espíritas tinham a graça com prazo de validade, ou porque aumentou os níveis de ceticismo nas gerações sucessoras, vem o projeto de conferir nova distinção à existência do homem da segunda parte do livro. Projetos firmados agora em uma ultra-realidade que se imunizara da necessidade de um deus. E Gray se ocupa largamente do maior e mais terrível projeto religioso dos últimos séculos da história: a efetivação do bolchevismo em boa parte do mundo. Ele inicia com a sintomática e mais que simbólica visita de H. G. Wells a Lênin, em 1920, com a intenção do escritor em trazer Lênin para seu plano de emancipação humana conferindo os postos de poder das sociedades a intelectuais humanistas. Claro que o leitor pode sentir o impacto do presságio da estrutura oca da ingenuidade do sonho de Wells, e de como Wells vai se entregando à lucidez do morticínio quando todas as suas matemáticas sociais sucumbem a um mero caso amoroso com uma das personagens mais enigmáticas e fascinantes apresentadas por Gray, Moura Budberg (uma aristocrata da época dos Romanov que, para sobreviver, tinha que se incluir à única condição de prostituta de luxo que sobrava para as moças de seu meio).

Gray passa o foco para a vida do escritor soviético Máximo Górki, e de como ele tomou frente em um departamento do regime para promover o extermínio de pessoas comuns (as tais pessoas comuns de Cobain) com intuito de, a longo prazo, produzir a sociedade igualitária perfeita povoada de seres humanos superiores. "O recurso ao terror era acima de tudo um meio de recriar a humanidade", escreve Gray. Górki cultivava a crença de que deus ainda não existia, que o propósito da humanidade era criar deus, que a ordem acreditada estava invertida e o homem que teria de criar deus à sua semelhança e imagem. A supremacia do homem, o Super Homem, fomentado às custas da dizimação total de todas os incultos e pobres de espírito, faria que deus existisse. A esse projeto soviético deu-se o nome A Comissão de Imortalização (The Immortalization Commission, que dá o título do livro no original em inglês). A pragmatização da comissão se deu com amplo sucesso. As descrições de extermínio nas páginas do livro são generosas, como a da construção da Ponte do Mar Branco, na qual milhares ou talvez milhões de presos em escravidão sucumbiram no trabalho, no frio e na fome. O livro trata antes da grande insuficiência da razão humana, que sempre descamba para a selvageria sem limites, o que atesta no final o alívio diante a vacina da morte para um engenho tão fracassado. Mostra o quanto a fronteira entre o intelecto e a psicopatia homicida é tênue, prefigurado por assassinos investidos de propósitos redencionistas como Górki.

E por que tais coisas não são contadas para nós na escola? Como ensinar sutileza de pensamento para um mundo dominado cada vez mais pelo branco-e-preto monolítico? Como fazer com que o cérebro pense ao explicar que o livro preferido de Stalin era Os demônios, sendo que este livro que inspirou a sua matança de 60 milhões de conterrâneos, e que Os demônios foi escrito por Dostoiévski justamente como um aviso para que um Stalin não pudesse vir a existir? E será que pessoas tão obtusas à percepção dessas nuances podem merecer serem protagonistas de uma cosmologia de uma vida eterna? E ensinar que todo relativismo que coloca graus de superioridade relativiza sua própria posição na escala entre algoz e vítima. Um livro como A busca pela imortalidade é um grande presente, um generoso ato de humanismo. Nada se compara a ele, em todas as suas idiossincrasias de grande prosa e lucidez libertária sem qualquer engajamento. Gray não impõe nenhuma verdade, e essa sua obra tem o voluntarismo espontâneo de servir como tijolo para a fundação de um novo sistema de precaução contra as intrujões da história. Não defende nada e não condena nada. Tem a beleza do andar livre de um Omar Khayyãm, que não reconhece sobre si nenhuma religião e nenhuma ciência, sem contudo estufar o peito de orgulho arrogante. Não menos sintomático e simbólico, Gray fecha a obra com um belíssimo texto do poeta húngaro judeu György Faludy, que narra seus dias assim que chegou como refugiado de guerra a uma Casablanca rescendida à morte, e que foi enviado ao campo de concentração de prisioneiros de Recsk por se recusar a escrever um poema em honra ao aniversário de Stalin (na prisão, narra Gray, Faludy confessou que tinha sido recrutado como espião norte-americano pelo capitão Edgar Allan Poe e pelo coronel Walt Whitman), e que, libertado, viveu com um companheiro por mais de 30 anos, casou-se outra vez aos 91 e morreu em 2006, aos 95.

Assim encerra A busca pela imortalidade:

A vida após a morte é como uma utopia, um lugar onde ninguém quer viver. Sem as estações, nada amadurece e cai ao solo, as cores nunca mudam de cor nem o céu altera seu vago azul. Nada morre, e assim nada nasce. A existência eterna é uma calma perpétua, a paz do túmulo. Os perseguidores da imortalidade procuram um caminho para fora do caos; mas fazem parte desse caos, natural ou divino. A imortalidade é apenas a alma que empalidece, projetada numa tela branca. Há mais luz do sol na queda de uma folha.

5 comentários:

  1. Dois pontinhos só:

    Os Romanov não precisavam exterminar tantos russos como os bolcheviques, pois para os Romanov o poder absoluto estava em suas mãos e a estrutura do estado totalitário dava conta de qualquer contestação, restando aos russos sob o status da servidão (ou mesmo depois, quando abolida)... se submeter, morrer de fome, viver na indigência, ser analfabeto, agrilhoado pela igreja, arrasado pela vodca...

    Após a Revolução, na utopia insensata de mudar o mundo, a história e as pessoas num mesmo e rápido pacote, sob uma luz suposta de um "socialismo científico" muito mais que apenas controverso, não restaria outro caminho senão a purgação dos males pelo extermínio direto dos recalcitrantes.

    Mas não se compara a Revolução com os Romanov e se pende para os últimos; estes foram assassinos entediados, que consideravam a rotina das perseguições de Estado coisa para meros funcionários; os bolcheviques tinham um programa revolucionário, não meramente reformista, e o caminho que seguiu, infelizmente, traiu quaisquer boas intenções de quem, liderado, não percebeu nas lideranças (Lênin, Trotsky, Stálin e outros menos votados) uma disposição demasiado férrea, religiosa, de realizar um gênero de felicidade eterna impossível de se concretizar.

    Quanto a Cobain, ele foi apena uma boa expressão de uma juventude desreferencializada, amorfa, mergulhada na subcultura de massas. Em dado momento, com a fama, ele perdeu s si mesmo, mergulhou na paranoia do drogado que desemboca no ódio a tudo e a todos, enquanto busca satisfação imediata para seus apetites, e ser perde na voragem da vaidade e do egoísmo. De tanto retratar a mente conturbada de pessoas como ele (mas não ele mesmo), e ganhar dinheiro demais, se envolver com uma mulher infelizmente nada além de um subproduto da subcultura de celebridades, Cobain matou a si mesmo, e não com um tiro, mas artisticamente, pouco depois de Nevermind. Faltou a ele um espírito crítico não estimulado no meio em que viveu, naquele País dos Idiotas.

    Talvez o melhor seja outra coisa: amar as pessoas comuns, desinteressantes, até por autocrítica. O que faz de nós, afinal, pessoas tão incomuns e interessantes? Ilusão pura?

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    1. Não tem como defender os Romanov. Basta o exemplo que Ivan Karamazóv dá do menino trucidado pelos cães por um senhor rural para abominar esses 300 anos. Gray, obviamente, não diz que "isso é ruim e o oposto é bom". Apenas que o livro acentua que a história é um produto abominável e sem a mínima esperança. Me fez lembrar da personagem em Dia de finados que "bebe contra a história", e Stephen Dedalus, que sonhava ser despertado do pesadelo da História. O livro de Gray é uma vacina contra partidarismos e estatísticas e a favor de um humanismo cru e insofismável pelo direito à vida.

      Um reflexo de que a produção cultural necessita de uma nova propulsão é esse quase gênero de se escrever sobre ídolos do rock. Alex Ross é o único que consegue empregar nisso um certo charme, em seus textos sobre Cobain, Thom Yorke e Bob Dylan, que oferecem uma real profundidade. Mas um dos ensaios mais ridículos e falsos que li foi o do Jeremiah Sullivan sobre Axel Rose: um escritor tentando emular estilos defasados de Norman Mailer e Capote, falando sobre um artista pop cosmético empalhado pela mídia em seu vazio total de conteúdo.

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  2. "A única utopia possível é a auto-consciência, uma humildade potente e libertária diante a verdade do ser combalido que somos".
    A poderosa auto-consciência evidencia a presença no corpo de uma alma que aponta para o alto. A ela, sempre, o último apelo ao justo juízo. Possível por estar presente, silenciosa, sempre clamando pelo que é humano, racional.
    Obrigado, Charlles.

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  3. Axel Rose: […] um artista pop cosmético empalhado pela mídia… É, esse nosso mundinho animal do entretenimento se mantém praticamente pela geração continua de empalhados. Um lugar de excelência em tal técnica é a Globo; sem dúvida, o maior centro de taxidermia brasileiro.

    Ana Maria Braga, Luciano Huck, Fátima Bernardes, Xuxa et caterva são as provas cabais da sofisticação em tal processo brasileiro. É incrível… Eles parecem vivos…

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    1. O autor do ensaio sobre o Axl é um exemplo sobre empulhação literária, xuxismos literários ou que seja. O cara é carregado de cacoetes do jornalismo literário, e tenta criar grandeza iconográfica dizendo que quando Axl faz sua dança da cobrinha ele se mostra como um dos maiores dançarinos do mundo, e descreve o que aconteceu em um boletim policial que tem o adolescente Axl como denunciado por agressão a um vizinho. É constrangedor. É o exemplo mais cabal de um autor derrotado pela falta absoluta de um tema, aí passa a escrever sobre bagatelas sem a mínima importância e interesse.

      Aliás, sobre a Globo, a Globo News é um show de informações. Digo, informações sobre o eterno classicismo E de nossa assim chamada Classe A. Não sei o nome de ninguém ali, e a maior parte das vezes eu deixo, não sei porquê, o canal ligado no mudo, enquanto ouço música à noite. Há um ali que eu chamo de Harry Potter, com o cabelão desgrenhado; há um anjinho do bem com seu terninho e sua cara de bom moço, que fala sobre Conta Corrente; há duas mulheres louras, uma delas uma vez peguei falando dos presentes que seu marido lhe trouxe da última viagem aos EUA.

      Há o Manhattan Connection, claro, com seus 5 apresentadores dos quais só sei o nome do Mainard: o apresentador mor com sua pronúncia deplorável do inglês, e que a cada livro que se anuncia ali ele demonstra o maior enfado ao decretar que "ainda vou lê-lo", ou "ah se eu tivesse tempo para lê-lo"; e um cara com a boca que se mexe sozinha tal qual em um desenho animado enquanto ele vaticina sua ira ao Brasil e seu enfado diante a sina de ter que apresentar do Brasil, enquanto seus colegas estão ou em Veneza ou nos EUA. Há o galã que apresenta restaurantes da moda de New York, que, pode ser doença da minha mente, parece rolar uma certa eletricidade homoerótica com os outros da bancada em relação a ele. E há o Mainard, falando direto de Veneza, com suas estantes ao fundo onde o que mais se vê são lombadas de livros do Gore Vidal, o mais misógino e banal dos escritores.

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